O Sócio Invisível
Quando olhamos para um carro popular de entrada no Brasil, hoje beirando os R$ 70.000 ou R$ 80.000, não estamos olhando apenas para o custo de metal, plástico, borracha e engenharia.Estamos olhando para um dos sistemas de arrecadação mais agressivos do planeta.
O sentimento de que a juventude está sendo "expulsa" do mercado de consumo não é vitimismo; é matemática tributária.
Para entender a profundidade do abismo entre a juventude atual e o veículo zero, precisamos dissecar a anomalia tributária brasileira: o Estado brasileiro é o "sócio majoritário" de qualquer veículo zero quilômetro.
A Engenharia do Custo: Um "Sócio" de 50%
No Brasil, o governo é o sócio majoritário da indústria automobilística, mas sem assumir nenhum risco de produção. Enquanto em países como os Estados Unidos a carga tributária sobre um veículo gira em torno de 6% a 10% (cobrados no final da venda) e no Japão cerca de 9%, no Brasil a mordida pode variar de 30% a 48,6% do valor final do carro, dependendo da motorização e categoria.
Isso significa que, em um carro popular de R$ 80.000,00, aproximadamente R$ 35.000,00 a R$ 40.000,00 não pagam por tecnologia, nem por segurança, nem pelo lucro da montadora. Esse valor é puramente tributo.
"Basicamente, o brasileiro trabalha meses para pagar o carro que vai dirigir, e outros meses para pagar o carro imaginário que o governo embolsou"
O problema é mais profundo do que a porcentagem final. O sistema tributário brasileiro opera em "cascata". Antes do carro ficar pronto, a montadora paga impostos sobre a energia elétrica da fábrica, sobre o aço comprado da siderúrgica (que já pagou imposto), sobre o pneu (que já pagou imposto sobre a borracha). Quando o carro chega na concessionária, incide-se imposto novamente sobre o valor total acumulado.
Ou seja: nós pagamos imposto sobre o imposto que já foi pago nas etapas anteriores. Isso infla o preço de custo de uma maneira que torna impossível para a indústria oferecer um produto barato, mesmo se ela quisesse sacrificar sua margem de lucro.
E já que estamos falando de impostos, você conhece os impostos que são pagos?
- IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados): A taxa base que varia conforme a potência do motor.
- ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços): O peso estadual, que incide sobre o valor já inflado pelo IPI.
- PIS/COFINS: Contribuições federais que incidem sobre o faturamento.
Essa complexidade gera um custo operacional gigantesco apenas para calcular o quanto se deve pagar (o famoso "Custo Brasil"). Para o jovem que está entrando no mercado de trabalho, isso cria uma barreira de entrada intransponível: o salário de entrada não acompanhou a inflação desses impostos compostos.
Se pagássemos impostos de nível escandinavo e tivéssemos estradas alemãs ou transporte público suíço, a discussão seria outra. O ponto nevrálgico da frustração da nossa geração é que pagamos o carro mais caro do mundo para rodar nas piores estradas.
O imposto pago na compra do veículo (e depois o IPVA anual) não retorna em infraestrutura de qualidade. O jovem paga caro para ter o carro, paga caro para mantê-lo e ainda corre o risco de destruir a suspensão em uma cratera na via pública ou ter o bem roubado devido à insegurança pública. É um "perde-perde" financeiro constante.
A Ilusão da Acessibilidade
Sabendo disso, eu gostaria de convidar você a refletir: por que não fazemos uma reforma tributária agressiva para mudar isso? Você, que hoje tem seus 20 a 30 anos, está satisfeito com essa realidade?
Recentemente, vimos pautas como a do deputado Kim Kataguiri defendendo a facilitação da CNH e o fim da obrigatoriedade da autoescola. A iniciativa é válida, entretanto, de que adianta ter uma CNH na carteira se você não consegue comprar o veículo para usar na garagem?
Se você, assim como eu, vem de família humilde, sabe que não ganhará um carro de presente. E sejamos realistas: seu tio ou tia que possui um veículo provavelmente vai "bancar a dificuldade" para deixar você praticar. Não é por maldade, é pelo custo: o medo de um arranhão ou uma peça quebrada é real, pois o conserto é caríssimo e o risco de ficarem a pé é alto.
Como Mudamos o Jogo?
Infelizmente, para alterarmos esse cenário, é necessário um processo complexo que envolve mudanças na legislação tributária. Isso não é algo que um indivíduo consiga fazer sozinho, pois depende de ações a nível governamental, envolvendo o Poder Legislativo e o Executivo.
Mas os caminhos hoje disponíveis são claros:
- 1. Participação Política e Voto Consciente:Eleger representantes (deputados estaduais, federais e senadores) que tenham propostas alinhadas ao nosso benefício. Precisamos de gente que discuta a sério a reforma tributária e a redução de impostos sobre consumo (que, como vimos, é o vilão que infla o valor de tudo).
- 2. Apoio a Projetos de Lei:Acompanhar e apoiar ativamente projetos de lei que tramitam nas assembleias e no Congresso Nacional visando a redução ou simplificação dos impostos veiculares (IPI, ICMS, IPVA e PIS/Cofins).
- 3. O Poder da Sociedade Civil Organizada:Sinceramente, as outras opções são complicadas (a falta de educação política no Brasil muitas vezes favorece a reeleição de quem não nos representa). Aqui entra o "4º Poder": a pressão pública. É hora de nos juntarmos a associações de classe e grupos de consumidores que fazem lobby e pressão real junto ao governo.
- 4. Manifestação Pública e Pressão Digital:Participar de movimentos sociais e assinar petições públicas. A internet tirou as barreiras físicas da manifestação; precisamos usar isso a nosso favor.
O Nascimento do União Jovem
Nesse momento, nós nascemos para dar voz a você, à sua família e aos seus amigos. Precisamos de alguém que fale em nome dos jovens, precisamos criar uma "Frente Jovem" para reivindicar o que realmente importa.
Pense comigo: se crescermos a ponto de chegar em um deputado e dizer:"Vou abrir uma live agora com uma estimativa de 100.000 jovens brasileiros assistindo. Se você não nos ouvir, esses 100.000 votos e a influência deles irão para o seu concorrente."
Essa pressão direta no Congresso funciona. Se, assim como eu, você acredita que podemos moldar o Brasil juntos, te convido a ser um elo dessa revolução. Vamos juntos construir o Brasil que nós queremos — e que nós merecemos.